Por Cara Carambola

 

Um novo modismo alimentar está fazendo sucesso entre os que buscam uma dieta para uma vida saudável ou mesmo emagrecimento e controle de peso.  A Dieta Peleolítica ou, no inglês, Paleo Diet, ganhou o reforço de um artigo publicado em revista especializada dos Estados Unidos, a American Journal of Clinical Nutrition, atestando seus benefícios. Mas o artigo dividiu a comunidade científica, que aponta problemas nas pesquisas em que foi baseado.

 

Avaliação

Uma avaliação da dieta e do artigo foi publicada no Ciência In Forma pela doutora em Educação Física Fátima Benatti, que atualmente trabalha na Universidade de Copenhagen. Segundo a avaliação da doutora, os estudos que atestaram a eficiência da paleo diet não podem ser considerados definitivos, pois foram feitos em períodos de tempo curtos, entre 2 semanas e 6 meses.
A dieta, popularizada nos EUA pelo nutricionista Loren Cordain, se baseia na alimentação humana na Era Paleolítica, entre 3 milhões e 10 mil anos atrás. Acredita-se que a base da comida era de origem animal e frutas e sementes coletados diretamente na natureza. Não consumiam açúcar, sal, óleos vegetais, álcool, cereais, legumes, nem leite animal e seus derivados - esses alimentos só seriam introduzidos na alimentação humana após a revolução agrícola, há cerca de 10 mil anos. A alegação de Cordain é que os genes humanos foram moldados no Paleolítico e tudo o que veio  depois é recente na escala de tempo da evolução genética e, por isso, nosso organismo ainda não teria se adaptado.

 

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Alguns estudos comparativos focaram populações atuais de coletores-caçadores, como os aborígenes australianos, que demonstraram ser menos propensos a "doenças modernas" ligadas ao estilo de vida e alimentação, como hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculaers etc.

Para a pesquisadora da Universidade de Compenhagen, essas afirmações de Cordain não se sustentam já que a dieta no Paleolítico variava de acordo com a ecologia de cada região - clima, vegetação etc. -, o que pode marcar diferenças significativas, que podem ir de uma alimentação baseada exclusivamente em caça até uma dieta totalmente vegetariana, baseada em coleta de frutos e sementes. Para Fátima Benatti, diante de tal variedade, é mais coerente afirmar que o organismo humano está adaptado a diferentes tipos de dieta, e essa adaptabilidade varia de indivíduo para indivíduo.

 

Revolução Agrícola x Revolução Industrial

Fátima também aponta que as doenças associadas a dieta e estilo de vida modernos surgiram basicamente nos últimos 50 anos, muito tempo depois da revolução agrícola e bem mais próximo da Revolução Industrial, quando começam os alimentos processados, carregados de sódio, açúcar e conservantes, entre outras substâncias. Sem contar as facilidades do dia a dia, como elevadores, escadas rolantes, automóveis, que reduziram as atividades físicas e também afetam as populações aborígenes estudadas (que hoje convivem também no meio urbano).

A doutora em Educação Física aponta ainda pelo menos uma omissão no artigo do American Journal: o autor pegou dados de 6 meses de um dos estudos que, de fato, tinha duração de 2 anos. Nesses 6 meses, o grupo da paleo diet apresentou redução da gordura abdominal, o que consta no artigo. Mas ao fim do estudo, 2 anos, a diferença não mais existia, mas esta informação não está no artigo.

Para a doutora, apesar de modismo, o que parece plausível afirmar é que não há um tipo único de dieta que sirva para todas as pessoas. O ideal, diz ela em sua avaliação, é que cada um busque a alimentação adequada para suas necessidades e realidades. E associar, sempre, alguma atividade física.

Saúde!

 

 

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