

Sal, pimenta, fogo, foguinho!
Pular corda é bem mais que uma brincadeira divertida. O jogo envolve várias habilidades físicas e sociais, o que faz dele um aprendizado divertido
Por Cara Carambola
"O jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida, uma simulação lúdica da realidade, que se manifesta quando as pessoas fazem esporte ou quando as crianças brincam" - João Batista Freire e Alcides José Scaglia, em "Educação como prática corporal"
Pular corda vai além da atividade física, o que por si só já seria um bom benefício. Mas a brincadeira, assim como outros jogos tradicionais, ativa amizades duradouras, habilidades motoras e sociais, além de ser bem divertida, o que faz com que seja um aliado na educação infantil, conforme pesquisam e atestam muitos profissionais da área.
Em um desses estudos, o educador físico Willaci Macedo Olimpio e o mestre em Educação, Ricardo Felipe Souza Camarês, reúnem vários autores no trabalho Pular corda: uma possibilidade biopsicossocial na educação fisica escolar, feito na área de Saúde da Universidade Nilton Lins, em Manaus (AM).
Para os estudiosos citados no trabalho da dupla, o que a criança aprende ou exercita nas brincadeiras tradicionais, como pular corda, beneficia outras atividades, como concentração, segurança, reflexo ou cooperação e respeito, e a acompanha para o resto da vida. Por serem de adesão livre e espontânea, ao participar de jogos tradicionais, a criança aprende sem se dar conta, brincando.
Pular Corda
A brincadeira de pular corda envolve movimentos de locomoção fundamentais, como o caminhar, correr e saltar, que, embora rotineiro, é considerado um movimento complexo, pois requer um desempenho coordenado de todas as partes do corpo.
Nesse divertido exercício, ainda estão em jogo a agilidade, a força, velocidade, equilíbrio, coordenação motora, resistência, flexibilidade e ritmo. Por essas características, pular corda também é usado por adultos para manter a forma.
Ladainhas
Pular corda envolve ainda as ladainhas, que são canto-faladas durante a brincadeira. Além de acrescentar uma coordenação, a vocal, que envolve muitas operações físicas e mentais, as ladainhas auxiliam no ritmo e, no caso de uma corda coletiva, no ajuste do individual ao grupo, e dos que pulam daqueles que giram a corda.

As ladainhas são necessárias para a orientação de tempo e espaço, pois a tônica das frases é feita, em geral, quando a corda bate no chão, tornando-se uma marcação de tempo. Assim, escrevem Willaci Macedo e Ricardo Felipe, "quando a criança vai entrar na corda e faz aquele movimento de espera da batida da corda, ela está esperando o melhor tempo para sua entrada na corda e também está calculando a distância que ela tem que percorrer para que ela possa fazer o movimento com desenvoltura e para sair da corda esses movimentos também terão que ser obedecidos. Também vale dizer que todo esse movimento envolve cooperação entre as que saltam e as que giram a corda".
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Nesta brincadeira de entrar na corda, pular e sair da corda, a criança está envolvida na apreciação das direções e na orientação no
espaço através da relação do corpo com o objeto corda e entre o corpo e as demais pessoas no jogo; na apreciação das distâncias através da visão, pois exige localizar o objeto no espaço, avaliar direção, distância e velocidade; na localizaçaõ de um objeto em movimento, o que altera as relações de espaço-tempo e implica em avaliar a trajetória, velocidade e em uma previsão da posição subsequente do objeto.
As ladainhas funcionam ainda como um diálogo e cumplicidade, ajudando na noção de cooperação.
Educação
Por fim, para os estudiosos, há cinco bons motivos para incentivar os jogos tradicionais, seja na escola ou fora dela:
* os jogos tradicionais, por estarem no centro da pedagogia do jogo, devem ser preservadas na educação contemporânea;
* o brincar, como componente da cultura de pares, como prática social de crianças de várias idades, não pode ser deslocado para um tipo de escolarização em que predomine apenas relações criança-adulto;
* jogos tradicionais podem representar um meio de renovação da prática pedagógica nas instituições infantis, bem como nas ruas, férias, etc.;
* os jogos tradicionais são apropriados para preservar a identidade cultural da criança de um determinado pais ou imigrantes e;
* ao possibilitar um grande volumes de contatos físicos e sociais, os jogos tradicionais infantis compensam a deficiência de crianças residentes em centros urbanos, que oferecem poucas alternativas para tais contactos.
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